06 julho 2012

...mas o melhor do Mundo são as crianças.


Pessoa já o dizia no poema "Liberdade".
Wes Anderson, que provavelmente não faz ideia de quem será o caixa de óculos lingrinhas que costumava passear pelo Chiado a pensar na vida e com o estômago quentinho da dose diária de bagaço, faz jus a este dizer popular na sua nova fantasia cinematográfica.  
Tudo se passa no Verão de 1965, na ilha imaginada New Penzance, também ela personagem fulcral e metáfora para o isolamento a que todas as personagens se encontram votadas.
Toda a tempestade insular se inicia quando Sam e Suzy decidem virar costas a um destino cinzento e fogem juntos, alimentados pelo doce sabor da liberdade e da descoberta do Amor.
Os "adultos", como seria expectável, agitam-se na modorra em que (se) transformaram as suas vidas e não acham piada nenhuma à ideia, lançando-se no seu encalço.
A ingenuidade e "quirkiness" que transparece no cinema de Wes Anderson caem como uma luva neste argumento, em que é dado todo o protagonismo ao elenco mais jovem, transformando o filme numa  bela fábula de esperança e redenção.
Os detalhes são as verdadeiras pérolas desta obra de arte.
A fotografia é uma maravilha, passando a ideia de se tratar de um filme datado, quase etéreo.
Os planos precisos e quase surreais, polaroids artísticas espalhadas pelos 90 e poucos minutos de filme, juntamente com a montagem soberba, conferem-lhe o toque artístico e reforçam a toada poética do texto.
Os cenários são de uma candura quase infantil, recheados de pequenas surpresas.
A banda sonora tem, talvez como nunca na obra de Anderson, papel primordial, dando as deixas para as acções que se desenrolam e até explicando o seu significado e contexto. Alexandre Desplat tem uma orquestração de sonho, para não variar, a que se juntam diversas peças do Benjamin Britten e do histórico Hank Williams.
Tudo bem misturado, com doses equilibradas de génio e trabalho árduo, temos filme para relembrar nos próximos tempos, ao pensarmos quando foi a última vez que saímos do cinema a sorrir como se tivéssemos outra vez 12 anos.

(Fica a música para uma das melhores cenas do filme)
 

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