Georges Braque "Woman with guitar", 1913
Por esta altura do ano, começam os balanços em todas as áreas.
Os títulos variam entre o "o melhor de", "best of"e opções mais duvidosas como "veja o que perdeu" ou "recorde o que marcou o ano".
A Música não escapa ao triste padrão.
As omnipresentes estrelas festivas são acompanhadas das irritantes e redutoras estrelas vermelhas e classificações relativamente professorais ou mais profissionais, conforme o público alvo de cada publicação.
Desfilam os nomes relativamente consensuais (e anónimos para a esmagadora maioria das pessoas) em publicações ditas "de referência", simplesmente porque ainda não apareceram outros (e outras) que mudem qualquer coisa para que no fim de contas tudo fique na mesma.
A dita "crítica" é produzida pelas mesmas vozes, ano após ano, inevitável e indesfarçavelmente agarradas aos seus gostos pessoais, cristalizados nos saudosos 80´s e 90´s, em que tiveram alguma notoriedade por estarem nos sitíos mais "in" com as pessoas certas e usaram a mesma gabardina durante anos a fio por ser "fashion" (mesmo quando já há muito não era) ou tocaram numa banda que já ninguém que não eles próprios se lembra de ter passado pelo Planeta Terra, com alguns lamentáveis e extensamente defendidos "guilty pleasures" que em qualquer outra área da cultura seriam ridicularizados às lágrimas, mas aqui no burgo são vistos como "cool" e "old school" e outros estrangeirismos que impressionam os miúdos durante 5 segundos e outros tantos cliques (o tempo que perdem a buscar na wikipedia do seu 3G o significado e história associada a cada um).
A tarefa de captar o "air du temps" da música que fica para sempre ligada ao ano que termina torna-se assim um longo e penoso calvário, com cada publicação a apontar para onde está virada, preocupada em vender e fazer eco do que se vai dizendo no estrangeiro de forma consensual e com a "crítica" evitando (por falta de meios ou simples preguiça/excesso de confiança nos seus vastos conhecimentos musicais) a investigação do que está realmente por detrás de cada música e de quem a faz, pessoalmente, envolvendo-se com a matéria de que fala.
Por estas e por outras razões, há muito que confio mais no meu instinto e no que me faz sorrir ou voltar novamente a cada música para perceber o que me está a escapar do que num qualquer especialista que ouviu centenas de cds e, com uns incentivos das editoras e dos patrões, se limita a debitar o que se espera que debite: uma montanha de palavras vazias que o fazem sentir o rei do mundo mas nunca substituem a sensação da descoberta de um grupo que muda a concepção que temos da Música (e tantas vezes da vida), do folhear de um booklet ou do cheiro de um vinil acabado de estrear.
Um dos grandes prazeres da vida é descobrirmo-nos na obra que alguém deixou para trás como parte de si.
É essa a magia da Arte.
Reduzir essa grandiosidade a classificações padronizadas e simplistas é não apenas um desrespeito por quem deu de si para criar algo novo mas também por quem ainda não conhece essa obra e a quer realmente fazer sua.
Perante tudo isto, do top que por aqui estreio consta o que me fez vibrar nos últimos meses, independentemente da data em que foi criado e sem qualquer ordem cronológica ou hierárquica.

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