O público lotava a Sala Suggia da Casa da Música e a expectativa era palpável em cada comentário e olhar, para onde quer que nos virássemos.
Entra em palco o quinteto de cordas "The Grand Strings" e sem deixar que esmoreçam por completo os aplausos, ataca "Adiós Noniño" de Piazzolla, versão reduzida e optimizada, captando os momentos altos e universalmente reconhecíveis desta composição.
Ao público surpreso não restava senão deixar-se enlevar no que prometia já ser uma noite de sonho e aplaude reconhecido e já rendido à qualidade dos músicos que tinha pela frente.
"Aquecidas" as hostes, entra em cena a estrela Aloe Blacc.
Impecavelmente vestido, como é seu apanágio, com uma aura de tempos idos da Motown e da Stax, aparentemente anacrónica, noutra circunstância e em qualquer outro artista da mesma área musical, risível ou até pretensiosa, mas que a noite confirmaria adaptar-se, perfeita como uma luva.
A comunicação com a plateia foi uma constante, enquadrando músicas e letras, como um preacher ou um MC deslocado para uma cerimónia solene.
A ambiência criada por Miki, violinista e autor dos arranjos clássicos, confere à obra de Blacc uma densidade e um poder que escapa aos seus discos. Ouvimos cada palavra e nota como se pela primeira vez falassem connosco. As barreiras de estilo e gosto são esquecidas e recebemos avidamente aquela voz quente e impecável, eco de outros tempos, cantando os nossos eternos desafios, vitórias e derrotas.
A cerimónia cresce e a voz torna-se timidamente uníssono sussurrado entre os fiéis, reverentes para com a solenidade das cordas, dos arranjos magistrais e da voz inspirada do Father Blacc.
O seu pai espiritual e artístico, Bill Withers, é relembrado com uma música que lhe dedica.
O Rei da Pop é então evocado, uma espécie da última ceia adivinhada pelo público ao primeiro acorde de uma "Billie Jean" reinventada, mas não menos eficaz e certeira.
Anunciava-se o final apoteótico.
Standing ovation.
Longa, das que fazem doer as palmas das mãos e estender um sorriso de orelha a orelha.
Três regressos ao palco depois, o inevitável encore com a canção mais catchy e pop do seu repertório "Loving you is killing me".
A enorme Sala Suggia convertida em corpo e alma, únicos e imensos.
Momentos que se fazem história diante dos nossos olhos.
Música também é Religião. E alimento para a Alma.
Nesta eucaristia contem com a minha presença assídua e devota.
(Ficam as minhas 2 favoritas.A 1ª na Alemanha.A 2ª na nossa Casa.)
Sem comentários:
Enviar um comentário